sexta-feira, julho 29, 2005

A mulher que um dia ousou sonhar (Parte II)

Ela chorava, as ruas cinzentas, chovia, as lágrimas que lhe iluminavam os olhos, essas, não se misturavam com as gotas de chuva. A noite já tinha caído e ela chorava porque sentia que jamais seria como foi. Não por medo, mas por saudade. Uma amargura nostálgica fazia a sofrer. Não um sofrimento doloroso, mas um sofrimento seco, uma amargura desmedida, sentida nas profundezas da alma. Hoje chora, amanha não vão haver nem lágrimas, nem vontade, nem sentido, simplesmente uma alma desintegrada. Um ser que já não respira, um ser que para sentir antes tem que pensar.
Ela chorava num anoitecer, que já era noite. Cinzento escuro, escuro de negro. Negro de morte.

(Na rua, um rego de água escorria, a água era suja o seu odor putrefacto, mas não era da chuva que caía, era das gotas de choro)

2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

muito bonito
fez-me pensar em todos nós que por vezes inconscientemente somos forçados a mudar para algo mais aceitável para a comunidade nomomento, mas depois de tantas mudanças algo quebra e perde o sentido.deixo de ser, para ser alguem que me usa À distância, alguem que sorri, que fala, telecomandado pelo momento.ser eterno nao é sobreviver para todo o sempre mas sim conseguir ser eu por instantes mas ser eu realmente e sentir-me bem assim
keiek

7:18 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

folgo em ver que este blog vive, e vive bem. chego até a ficar surpreendida com a qualidade que alcançou. se calhar nao devia ficar :)

11:02 da manhã  

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