segunda-feira, abril 07, 2008

Uma brisa numa noite

A noite cai, não escura mas amarela, mas fria e nauseabunda, podre, fria e só. Uma brisa e um trago a amargo, mas doce, tão doce. Um cigarro, e a lua não a encontro. Como também não encontro a alma. Não quero sentir, não quero pensar, quero apenas viver e não sofrer! Uma dor fria. Acho que perdi a alma, mas também não a quero reencontrar, dá trabalho e depois tenho que a usar. Tenho medo da consciência e tenho medo de consciencializar. Tenho medo de tornar a encontrar a lua, mas também tenho medo de viver num Mundo sem ela. Da mesma forma não quero encontrar a alma, mas não posso existir sem ela. Quero ser um corpo, uno e livre. Quero ser água transparente e límpida porque me sinto podre e vazio. Mas por outro lado, quero ser lixo para não exigirem nada de mim. Nada! Porque de tudo estou eu farto. Estou farto de viver, mas não da Vida. Estou farto de pensar, mas não consigo viver sem pensar. Talvez esteja farto de mim como homem, e então queira começar do zero ou então queira reinventar-me, ou inventar algo. Agir tal como penso e não como um animal, que age sem pensar, pois não consegue pensar, ou não tem como pensar. Pois, talvez seja mais um animal, ou então, queira ser um animal. Não sei. Sei que quero sentir esta brisa, hoje, amanhã e depois. Outro cigarro e a lua continua sem aparecer. Afinal onde se terá ela metido? Saberá da minha alma? Quererei apenas amar? Serei eu capaz de amar? Se amar for sofrer, então sim, amo e sou capaz de. Mas os animais não amam ouvi eu dizer, fodem. E fazem-no apenas com um único objectivo. No fundo são seres puros e ao ser puros são livres e ao ser livres, são animais. E serei eu capaz de ser um animal? Talvez não, tenho uma estúpida mania de pensar. Talvez queira ser um vegetal. E sentir esta brisa, hoje, amanhã e depois. E ao querer fazer isso estou a agir como um vegetal. Mas, segundo eu ouvi dizer, também, estes não pensam, e eu tenho uma estúpida mania de pensar, ou então de achar que penso. Será que terão que inventar uma nova categoria taxonómica para mim? A mim parece me bem. Então, um ser que julga amar, que quer vegetar, que perdeu a alma, e que tem a mania de pensar, o que será? Talvez seja apenas um homem, e apenas mais um homem. Que julga ser diferente, sentir o que nunca antes foi sentido e saber o que nunca ninguém antes soube. Pois talvez serei apenas mais um homem que perdeu o norte, julgou perder a alma, ou que a quer perder e assim desresponsabilizar-se, e que tem a mania que não vê a lua, quando sabe que a sua existência é indubitável. Talvez seja cego, ou então não saiba ler os sinais, ou então não clarividente o suficiente. Finalmente, sou um homem, e não sei ler a verdade e não sei ser a verdade nem consigo ser verdadeiro, mas no fundo quero ser como todos os Homens, puro e livre.

sexta-feira, março 21, 2008

Poder aparente que se julga ter sobre a morte antecipada

As imagens passam e fluem. Ilusões. Luzes vão e vêm. A escuridão já não me amedronta. Nada me mete medo. Já não sinto e quem não sente não teme. Imagens escuras apoderam-se da minha mente, mas eu sorrio. A lua, encoberta por nuvens, nuvens escuras, ri-se da minha farsa. Farsa disfarçada por uma coragem desproporcional à minha vontade de viver. Uma escuridão latente reclama por descer sobre os meus pensamentos. Mas eu resisto-lhe, não tenho medo, e sorrio-lho, inaudita vontade eu mostro ter. A lua continua encoberta, contudo, estou certo da sua existência. Já, esta escuridão que o julgo ter vencido, ainda mal iniciou o seu reinado de trevas, e eu já demonstro poder vacilar.

sábado, janeiro 26, 2008

Hoje sou luz; pano, seda, cetim e a tua voz quente audível mas impossível de ouvir. Dá-me o teu calor, entrega-te, manipula-me e vence-me. Sonhei enquanto caminhava, uma brisa fria despertou-me, eras tu, e então sorri. Sempre soube que eras tu, só não sabia se queria que fosses tu. Fecho os olhos, mergulho, a água atinge o meu corpo; gelado adormeço, adormeço, adormeço; preciso de ti, do teu calor; frio, muito frio. Pano, seda, cetim cobrem-me, e eu pálido, petrificado. Há uma brisa a percorrer o meu corpo frio; quero, quero, quero, quero. Pano, seda, cetim descem o rio, enquanto o corpo se afunda nas águas geladas.

quarta-feira, abril 04, 2007

Fim antecipado

E depois da Morte morrer será que alguém mais irá morrer...? Será que um dia, numa noite sem luar, os mortos se elevam dos seus leitos de morte e vingam a sua morte, causando ainda mais morte...?
Um cheiro a náusea, um sorriso podre, um olhar de morte, enquanto, abutres vagueiam sequiosos de sangue. Um corpo no chão o ar corrosivo desintegra-o. Um corpo quente, repleto de vida, mas a subtileza da morte já é visível. Um tom cinzento é disfarçado pelo tom vivo com que ele caminha, um passo escorreito, mas é inevitável, é como respirar. Sorrisos abafam este som estridente, mas não há nada a abafar. Olhares disfarçam este olhar penetrante, mas não há nada a disfarçar. Mas o medo, apesar de tudo, nunca o largou. Medo de morrer.... não... medo da morte. E no fim, um corpo, uma massa de matéria ávida de vida, mas nuvens escuras pairam sobre ele, protegem-no dos abutres mais esfomeados. E no fim, as nuvens dissipam-se e o que é fica? Nada... porque nunca houve nada, antes e depois, foi e irá ser, apenas morte.

sábado, maio 13, 2006

Um tom cinzento caiu sobre a cidade. Fantasmagórica ela caminha, enquanto os morcegos caiem mortos, ao passar por ela. Sombras no rio, uma lua fria. Morcegos voavam, até que, a fantasmagórica viram, chamas de fogo ardiam-lhe no corpo; o seu corpo a vibrar de desejo, excitava os corpos moles depositados no cemitério. Nem ondas de desejo esquecidas aquecem esta cidade fria. Os raios de sol, durante o dia, são reflectidos e a noite é gelada. Sons pobres confunde-se num perfume pobre. Cheira a nada, um charco seco, onde antes perfumes regozijavam. Agora, uma cidade fria; a fantasmagórica; o desejo reclama sons quando devia reclamar por carne e os sons são pobres e o perfume acabou. Mais vale a morte.

sexta-feira, maio 12, 2006

fugaz

O restolhar invade-me. iria jurar que esta cadência ao repetir-se interminavelmente me elevaria ao não ser.. ou então fazer parte de outro ser.. mais leve, inconsciente, amoral.. o mais racional diria que se trata de trabuzanada.. digo não. digo abstracção! tudo se conjuga.. o ar fresco do mondego, o ar gravativo e orgulhoso.. a presença omnipresente e apaziguadora. tudo se torna tangível.. até as partículas suspensas em eterno suicídio.
mas tudo renasce.. até o fugaz vislumbre me parece um "dejàs vus"..(?).. parece inerente à colectiva transcendência e orgia.. como que ferindo de realidade a ambição do não ser.. impedindo a metamorfose!

sexta-feira, agosto 26, 2005

O sangue ferve, sinto-o a expandir-se.. a dar vida à carne mole,fria, desgastada. Reparo no que me envolve: luz, mobiliário, roupa.. Tudo me parece novo. não sou mais apático, relaxista, conformista. entrego-me ao movimento frenético, não penso em parar, já nem penso. entrego-me aos outros, seres indefinidos.. há tanto por descobrir...não sei, nem quero saber; mas estendo-me confortável e despreocupadamente noutro estado mental. absolutizo a leviandade e o escuro, acutilante sarcasmo esconde-se por um pouco. não me preocupo. sinto-me vivo. nada mais importa

terça-feira, agosto 23, 2005

Imagem morta

Um corpo, encharcado em suor, cansado, triste, enrugado, uma noite de verão, um cigarro na mão, numa esplanada cinzenta, vazia, triste, os outros corpos, amontoados, famintos vagueavam à procura de alimento.
Um olhar, profundo, agonizante, perdido.
Um sorriso, trocista, mentiroso.
Um aroma, embalava os corpos, emaranhava-os numa sinfonia negra, num tom viciado.

sexta-feira, julho 29, 2005

A mulher que um dia ousou sonhar (Parte II)

Ela chorava, as ruas cinzentas, chovia, as lágrimas que lhe iluminavam os olhos, essas, não se misturavam com as gotas de chuva. A noite já tinha caído e ela chorava porque sentia que jamais seria como foi. Não por medo, mas por saudade. Uma amargura nostálgica fazia a sofrer. Não um sofrimento doloroso, mas um sofrimento seco, uma amargura desmedida, sentida nas profundezas da alma. Hoje chora, amanha não vão haver nem lágrimas, nem vontade, nem sentido, simplesmente uma alma desintegrada. Um ser que já não respira, um ser que para sentir antes tem que pensar.
Ela chorava num anoitecer, que já era noite. Cinzento escuro, escuro de negro. Negro de morte.

(Na rua, um rego de água escorria, a água era suja o seu odor putrefacto, mas não era da chuva que caía, era das gotas de choro)

sexta-feira, julho 15, 2005

vislumbre

Máscara que modelo
tudo muda
a luz reflecte o pálido;
um estranho tosco, vazio, inerte
não te reconheço pois
brutidade tão-pouco- aparente
o desejo embalsama-me
cai, desaparece, evapora!
eleva-me este perene desejo do ser nada!
mosto do passado?
espero bem que sim...

domingo, maio 01, 2005

Chamas flamejantes consomem o meu corpo ávido de sentir. Não é dor. É um lampejo de ardor.
Vejo gotas. Lágrimas. São cores. Cores belas que serpenteiam o meu corpo e me transportam para onde as cores foram criadas. As nuvens não são cinzentas. Os raios de sol iluminam rios de cor.
Mas também não me sinto bem aqui. Quero fugir. Com um passo lento e escorreito. Fugir para onde as cores que existam sejam criadas por mim. Onde o meu corpo se combine com todos os elementos como se fizesse parte deles. Mas, estaria eu bem aí? Será que iria ser o mesmo se a natureza fosse tal como que eu queria que fosse? Não sei. Prefiro que a natureza seja o que ela quiser ser. Mas, sinto um ardor. Uma vontade latente da fazer o que nunca foi feito. Não me consome, prende-me.

domingo, março 06, 2005

Fechar os olhos, guardar uma imagem. A eterna imagem.
Fechar a alma. Cair na profundeza descuidada do pecado.
É impossível. Jamais recordar é sentir.
Uns fogem porque têm medo, outros porque têm medo da falta que vão sentir, da saudade. Preferem não viver. Eu prefiro sentir.
Caminho, percorro os dias, à espera. Quero sentir. Quero tanto sentir. Quero. Apenas.
Sentir. Como se apenas fosse pouco, mas não. É tudo.
Os livros existem para guardar histórias. Eu guardo-as na alma. E guardo o que sinto.

quinta-feira, fevereiro 17, 2005

Porque um sorriso será sempre um sorriso (Parte II)

Um riso estridente e poderoso faz ouvir.
A sorte de alguns, foi e será sempre o azar de outros.
Ah, ah, ah, sorriem....
Mas, o aroma da autodestruição já se faz sentir.
A brisa que corre, oxida os corpos. Estes envolvem-se numa auréola mortificadora. No passeio, germinam as sementes da dor. Mas, o andar escorreito encobre a carnificina.
Ah, ah, ah, sorriem…
Mas, não sabem eles que este sorriso já não foi como o outro. Este já liberta os primeiros sons da podridão.
E eu, tu, nós, sorrimos também, achamos que nunca é a nossa vez...

domingo, fevereiro 13, 2005


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