sexta-feira, julho 29, 2005

A mulher que um dia ousou sonhar (Parte II)

Ela chorava, as ruas cinzentas, chovia, as lágrimas que lhe iluminavam os olhos, essas, não se misturavam com as gotas de chuva. A noite já tinha caído e ela chorava porque sentia que jamais seria como foi. Não por medo, mas por saudade. Uma amargura nostálgica fazia a sofrer. Não um sofrimento doloroso, mas um sofrimento seco, uma amargura desmedida, sentida nas profundezas da alma. Hoje chora, amanha não vão haver nem lágrimas, nem vontade, nem sentido, simplesmente uma alma desintegrada. Um ser que já não respira, um ser que para sentir antes tem que pensar.
Ela chorava num anoitecer, que já era noite. Cinzento escuro, escuro de negro. Negro de morte.

(Na rua, um rego de água escorria, a água era suja o seu odor putrefacto, mas não era da chuva que caía, era das gotas de choro)

sexta-feira, julho 15, 2005

vislumbre

Máscara que modelo
tudo muda
a luz reflecte o pálido;
um estranho tosco, vazio, inerte
não te reconheço pois
brutidade tão-pouco- aparente
o desejo embalsama-me
cai, desaparece, evapora!
eleva-me este perene desejo do ser nada!
mosto do passado?
espero bem que sim...